Analistas angolanos consideraram hoje que a abstenção de Angola à resolução que condena a invasão russa da Ucrânia representa a “matriz pacífica” do país africano, em face ao atual conflito, classificando a posição angolana como “interessante e confortável”.
“O facto de o Estado angolano ter votado pela abstenção não implica que o Estado angolano se alinhou, quer do lado da Ucrânia ou então do ocidente que vem sancionando a Rússia por várias questões, e muito menos defendendo a Rússia”, afirmou o especialista angolano em relações internacionais Osvaldo Mboco.
Angola “é um país de matriz pacifista que prima pelos meios e instrumentos diplomáticos pacíficos para se encontrar a solução de vários problemas”, disse
“E toda qualquer estratégia que Angola vem desempenhando a nível internacional e não seria diferente para a questão da Rússia e da Ucrânia”, referiu Osvaldo Mboco, em declarações à Lusa.
Segundo o analista, também “não implica dizer que se votasse contra a ofensiva da Rússia estaria a abrir um incidente diplomático, ou, então, a criar qualquer situação embaraçosa com a Rússia devido aos laços históricos que é de domínio público que Angola tem com a Rússia”.
A assembleia geral da ONU aprovou na quarta-feira uma resolução que condena a invasão russa da Ucrânia, com o apoio de 141 dos 193 Estados-membros das Nações Unidas.
O texto "deplora" a agressão russa contra a Ucrânia e "exige" a Moscovo que ponha fim a esta intervenção militar e retire imediatamente e incondicionalmente as suas tropas do país vizinho.
A resolução teve apenas cinco votos contra (Rússia, Bielorrússia, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e 35 abstenções, incluindo as de Angola e Moçambique.
Angola, recordou o politólogo Olívio Quilumbo, “tem uma relação com a Rússia que data desde a independência”, e que foi “muito importante para a manutenção do poder político do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola]”.
“E, portanto, a relação de Angola com a Rússia vai muito além da relação diplomática”.
Para Olívio Quilumbo, a abstenção de Angola à resolução da ONU “foi uma posição interessante e, até pacífica, na medida em que ter um lado entre duas potências Rússia e Estados Unidos da América e se posicionasse entre uma ou outra implicaria comprometer-se”.
“Implica um compromisso, e a relação que Angola tem com a Rússia é de grande aliança, sobretudo da parte do Governo, é o aliado defensável de Angola no Conselho de Segurança da ONU”, notou.
No entender do politólogo, o Governo angolano, ao abster-se, “encontrou o melhor conforto político” no contexto do conflito, mas admitiu que se houver “um choque direto entre a Rússia e o ocidente […] Angola terá de se posicionar”.
“Portanto, a abstenção foi o mínimo confortável para um Estado que tem um Governo com uma relação muito forte com a Rússia, como é o caso de Angola, os dois são Estados autocráticos e defendem-se à sua medida”, rematou Olívio Quilumbo.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.
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